Situações de aprendizagem - texto "Avestruz", de Mário Prata

         A situação de aprendizagem a seguir, foi planejada com base nos textos "Gêneros e progressão em  expressão oral e escrita  -  elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona)", de Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly e "Letramento e capacidades de leitura para a cidadania", de Roxane Rojo, com o objetivo de desenvolver as capacidades leitora e ecritora nos aprendizes do Ensino Fundamental II.

Texto "Avestruz", Mário Prata

     O filho de uma grande amiga pediu, de presente pelos seus dez anos, uma avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento em Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era minha. Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino conheceu as avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo impressionou o garoto.

     Culpado, fui até o local saber se eles vendiam filhotes de avestruzes. E se entregavam em domicílio.

     E fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar aquilo de ave. A avestruz foi um erro da natureza, minha amiga. Na hora de criar a avestruz, Deus devia estar muito cansado e cometeu alguns erros. Deve ter criado primeiro o corpo, que se assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe quanto pesa uma avestruz? Entre 100 e 160 quilos, fui logo avisando a minha amiga. E a altura pode chegar a quase três metros. 2,7 para ser mais exato.

     Mas eu estava falando da sua criação por deus. Colocou um pescoço que não tem absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia mais ter estoque de asas no paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até sabiamente para evitar que saíssem voando em bandos por aí assustando as demais aves normais.

     Outra coisa que faltou foram dedos para os pés. Colocou apenas dois dedos em cada pé.

     Sacanagem, Senhor!

     Depois olhou para sua obra e não sabia se era uma ave ou um camelo. Tanto é que logo depois, Adão, dando os nomes a tudo que via pela frente, olhou para aquele ser meio abominável e disse: Struthio camelus australis. Que é o nome oficial da coisa. Acho que o struthio deve ser aquele pescoço fino em
forma de salsicha.

      Pois um animal daquele tamanho deveria botar ovos proporcionais ao seu corpo. Outro erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava o criador que elas vivem até os setenta anos e se reproduzem plenamente até os quarenta, entrando depois na menopausa, não têm, portanto, TPM. Uma avestruz com TPM é perigosíssima!

     Podem gerar de dez a trinta crias por ano, expliquei ao garoto, filho da minha amiga. Pois ele ficou mais animado ainda, imaginando aquele bando de avestruzes correndo pela sala do apartamento.

     Ele insiste, quer que eu leve uma avestruz para ele de avião, no domingo. Não sabia mais o que fazer.

     Foi quando descobri que elas comem o que encontram pela frente, inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por exemplo. máquina digital de fotografia, times inteiros de futebol de botão e, principalmente, chuteiras. E, se descuidar, um mouse de vez em quando cai bem.

     Parece que convenci o garoto. Me telefonou e disse que troca o avestruz  por cinco gaivotas e um urubu.

     Pedi para a minha amiga levar o garoto num psicólogo. Afinal, tenho  mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.

PRATA, Mário. Avestruz. Caderno do aluno - 5ª série/ 6º ano vol. 2

 

 

Situações de aprendizagem do texto: “Avestruz”, de Mário Prata:

Público-alvo: 6º ano do Ensino Fundamental

Atividades para serem desenvolvidas em seis aulas

1º) Ativação de conhecimento de mundo

Roda de conversa: Antes da leitura do texto ,oralmente, fazer perguntas sobre o título do texto e levantar hipóteses sobre o que o texto pode informar:

▪ O que pode acontecer em uma história que tem um título como esse?                                                                                                  http:www.blogoteca.com

▪ Vocês já viram um avestruz?  Se viram, onde? Como ele é? Onde ele vive?

2º) Localização de informações

Após a leitura do texto, acompanhada pelo professor e o esclarecimento do vocabulário desconhecido pelos alunos,  pedir aos mesmos que localizem no texto e explanem oralmente:

▪ Título, autor e local onde foi publicada a história;

▪ informações que comprovam que o garoto não pode criar um avestruz dentro de um apartamento;

▪ o tema e o subtema apresentados no texto.

3º) Produção de inferências globais e locais

Fazer perguntas aos alunos para que respondam no seu caderno:

Inferências Locais: Por que o avestruz é considerado um erro da natureza, pelo narrador?

             Que argumento o amigo usou para convencer o garoto a desistir de criar um avestruz no apartamento?

Inferências Globais: Partindo da expressão “Cismou, fazer o quê?”, analise o poder da palavra no convencimento do interlocutor.

               Por qual motivo o garoto poderia desejar ter animais de estimação tão incomuns dentro de casa? E por que todos eram aves?

 4º) Recuperação do conteúdo de produção

Questionamento:

▪ Vocês conhecem o autor do texto?

▪ Quem provavelmente pode ser o público-alvo desse texto?

▪ Onde esse texto pode ter sido publicado?

▪ O texto pode ser considerado engraçado? Por quê?

5º) Percepção das relações de intertextualidade

Apresentação de trechos do filme “Compramos um zoológico” e relacionamento com as dificuldades de cuidar de animais selvagens;

Comparação do texto com a fábula “O avestruz e o cavalo”, buscando mostrar os motivos do comportamento do avestruz.                                                                                                                                                                                                                   blogs.viaeptv.com

6º) Percepção de outras linguagens                                                                                                                                                                      

Fazer com os alunos uma análise comportamental da criança e do adulto. Após essa análise, discutir a questão da necessidade de impor limites na educação de crianças e comparar com o comportamento de cada um em sala de aula.

Pedir aos alunos que façam uma pesquisa com pessoas que morem próximas a eles sobre como é ter um animal de estimação em casa, quais são os cuidados e as necessidades do animal.

Fábula "O avestruz e o cavalo", de Maria Rosa

      Andava muito triste e cabisbaixo o senhor Avestruz, quando ouviu:

      -Boa tarde, Senhor Avestruz! Já viu que belo entardecer?

      -Lá vem chumbo. É agora que enfio a minha cabeça na areia. Se há quem não goste de encrenca ou desafio, este alguém sou eu.

      -Há muitas coisas lindas para ver, senhor Avestruz, relinchou o dono da voz que ele ouvira cumprimentá-lo.

       Empertigou-se todo o senhor Avestruz, com a cabeça bem alta para poder engolir algo bem duro como uma pedra, como costumava fazer, quando seus olhos ficaram arregalados, grandes e parados… “oh! Que beleza de animal! Belo e garboso. Lindo e soberbo cavalo branco”.

      -Desculpe, senhor Cavalo, mas não consigo ver as coisas com seus olhos. Ando perdido em meus pensamentos sobre a vida que gira entre erguer a cabeça bem alto, esticando o pescoço para engolir as coisas que a ninguém apeteça, ou enterrá-la no chão, fugindo assim aos desafios…

      E o cavalo, sacudindo a cabeça, crinas ao vento, relinchava:

      - Senhor Avestruz, olhe ao seu redor e veja as montanhas, as planícies, os lagos, as flores, o capim verdinho, a brisa que nos acaricia, a chuva que molha a terra, refrescando-a e tornando-a fértil. Quantas graças estão contidas nisso tudo e quanta sabedoria nas leis que governam tudo e todos!

     -Oh! Pobre de mim que estou preso aos meus pensamentos de auto-compaixão.Nem consigo pensar a respeito.

     - Senhor Avestruz, cada um de nós tem algo a aprender com a vida…

     -Bem é verdade que às vezes eu me permito correr velozmente e aí posso sentir a brisa de encontro ao meu corpo e vejo então a paisagem em movimento como se ganhasse vida. Isto é realmente agradável.

    -Então, Senhor Avestruz, relinchava o cavalo, por que não se permite esse prazer mais vezes? Nada há que o impeça. Deixe-me contar-lhe um pouco das minhas experiências. Eu nasci livre, correndo pelas campinas e vales, coiceando à vontade e em todas as direções e era muito divertido espantar, com isso, as pessoas. Foi então que, já crescido, resolveram “educar-me”. Diziam: ”belo cavalo, porte altivo… quando for “domado” será um “refinado espécime”.E foi assim que começou a minha luta. Veja bem, foi o começo que parecia não ter fim. O que coiceei e o quanto esperneei, o tanto que mordi para defender a minha integridade, só eu sei. Aos poucos fui cedendo … afinal eu queria viver, precisava viver. E ponderando…”quando sou mais cordato, sou premiado com boa comida, alguns afagos, não há de ser tão ruim assim. Quem sabe me deixarão em paz?”. Aos poucos fui-me deixando burilar, modelar e por fim me aquietei. E tirando uns excessos daqui e outros dali, procurei me equilibrar, segundo o que me era possível e segundo a vontade dos que me queriam “o refinado espécime”. Pois saiba, Senhor Avestruz que valeu a pena. Sofri, aprendi e hoje sei que, sem vencimento de si mesmo,não evoluímos, não podemos ser grandes. Adequei-me sem perder a minha dignidade. É para isso que serve a vida. Para com ela aprendermos a conviver. Porque viver é muito fácil. Conviver bem exige adaptabilidade, respeito e muito amor.

     Erga a cabeça, Senhor Avestruz. O seu estômago é adequado às coisas que só o senhor pode engolir. E ninguém pode esconder tão bem a cabeça no chão como o senhor. Cada um é perfeito como é e todas as funções são dignas. E dia virá, Senhor Avestruz, em que se lembrará de mim e do muito que temos em comum, porque neste dia o tomarão e lhe colocarão um capacete na cabeça, montarão nas suas costas e o esporarão para que corra celeremente, não pelo seu garbo mas pela sua competência. E o senhor lutará contra isso, dando coices para a frente e bicadas para não ceder. Mas, por fim, reconhecerá seu próprio valor, porque, a cada um é solicitado o tanto que suporte, segundo a sua medida. Agora devo ir-me. Seja muito feliz, Senhor Avestruz.

     E despedindo-se do amigo saiu trotando feliz, elegante, relinchando vez por outra, ele, que pela sua vivência, se tornara capaz de dar bons conselhos e assim reconfortar um, sofrido e indeciso, Senhor Avestruz.

     E foi assim que o Senhor Avestruz, com seu coração mais leve, feliz e agradecido, acompanhou com o olhar, o cavalo que trotava lá ao longe e disse a si mesmo:

    -Sei que sou capaz de engolir, digerir e transformar como ninguém. Hei de continuar, sem ressentimentos, aquilo que me cabe. E o melhor de tudo é que eu sei que sou capaz de administrar isso com muita competência.

    E com postura altiva, lá ficou, feliz da vida, olhos atentos, prosseguindo com sua lida.

Retirado do site :https://grupomariarosa.wordpress.com/2011/10/03/o-avestruz-e-o-cavalo-uma-fabula/